Geração digital: os riscos da vida conectada e o poder dos livros como refúgio
Provavelmente você já ouviu, leu – ou até usou – a expressão “o mundo na palma da mão”. E, vamos ser sinceros, poucas frases são capazes de descrever tão bem[...]
Inovação e Tecnologia
30/06/2025
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Two child sisters using digital tablet and laptop computer at home. Concept for daily use of technologies for children.
Provavelmente você já ouviu, leu – ou até usou – a expressão “o mundo na palma da mão”. E, vamos ser sinceros, poucas frases são capazes de descrever tão bem a realidade em que vivemos atualmente, não é mesmo?! Em um cenário cada vez mais conectado, basta – literalmente – um clique ou um toque na tela para acessar informações, se comunicar com pessoas do outro lado do planeta, assistir a vídeos, fazer compras ou estudar. É como se o mundo inteiro coubesse, de fato, dentro daquele pequeno dispositivo que carregamos no bolso.
Não é novidade que a tecnologia transformou nossa forma de viver, aprender, ensinar, trabalhar e nos relacionar. No entanto, diante dessa nova dinâmica, é fundamental refletirmos sobre os impactos da hiperconectividade – especialmente na rotina, no comportamento, no desenvolvimento e na vida, de modo geral, das crianças e adolescentes.
Os benefícios da geração digital
Para a chamada geração digital, isto é, os jovens que já nasceram ou cresceram imersos na tecnologia, estar on-line não é uma escolha, mas basicamente uma extensão natural do dia a dia. A internet e os dispositivos móveis fazem parte de quem eles são e da forma como aprendem, se comunicam e enxergam o mundo.
As crianças e os adolescentes da geração digital têm acesso instantâneo a uma infinidade de informações e, mais do que isso, contam com autonomia para explorar conteúdos e expandir seus conhecimentos. Eles aprendem por meio de vídeos curtos e dinâmicos, tutoriais, jogos educativos e redes sociais, absorvendo conteúdos de maneira rápida, interativa e muitas vezes personalizada.
Por meio da tecnologia, os jovens têm a oportunidade de conhecer diferentes culturas, costumes e realidades, vivenciando trocas riquíssimas que ampliam sua percepção de mundo e incentivam o respeito à diversidade. Além disso, a tecnologia também estimula a criatividade, a colaboração e o protagonismo, abrindo caminhos para oportunidades em diiversas áreas da vida.
No entanto, junto a tantos benefícios, surgem também inúmeros desafios.
Os perigos da hiperconectividade na vida real
Apesar de todas as vantagens, a vida conectada também traz consigo uma série de riscos que impactam diretamente o bem-estar emocional das crianças e adolescentes. A comparação constante nas redes sociais, a pressão por estar sempre on-line e atualizado, o medo de estar perdendo algo (o famoso FOMO – Fear of missing out, em inglês), a distração contínua e a necessidade de validação digital podem gerar sentimentos de inadequação e baixa autoestima.
Além disso, a exposição precoce a conteúdos inadequados para a idade, a disseminação de fake news, o cyberbullying e a falta de maturidade emocional para lidar com críticas ou exclusões virtuais são fatores que contribuem para um aumento preocupante nos quadros de ansiedade, estresse e depressão entre os jovens.
Ficção ou realidade? O impacto da tecnologia sob o olhar das séries e filmes
Séries e filmes que exploram os riscos do uso excessivo e inadequado da tecnologia e da internet têm ganhado cada vez mais espaço nas plataformas de streaming – e com razão, não é mesmo?! Essas produções, muitas vezes baseadas em fatos reais, apresentam personagens que lidam com crises de identidade, sentimentos de exclusão, relações frágeis e os efeitos da hiperconectividade. Além disso, revelam como o excesso de estímulos digitais pode impactar negativamente a saúde emocional e o bem-estar, especialmente de crianças e adolescentes.
Um bom exemplo é a minissérie Adolescência, da Netflix, que vem gerando grande repercussão desde que foi lançada na plataforma. A produção, que acompanha a trajetória de um garoto de 13 anos acusado de cometer um crime, evidencia como diferentes esferas – como a família, o ambiente escolar e as redes sociais – influenciam o comportamento e o desenvolvimento emocional de crianças e adolescentes.
No entanto, essa não é a única obra que lança luz sobre os efeitos da hiperconectividade:
O documentário O Dilema das Redes (2020, Netflix) analisa o papel das grandes plataformas digitais na manipulação de dados e no comportamento social, revelando como os algoritmos estão influenciando nossas decisões e emoções.
Já o filme O Mundo Depois de Nós (2023, Netflix), apesar de uma ficção, mostra as consequências de uma dependência quase total da tecnologia em um cenário de colapso.
E séries como 13 Reasons Why (2017 – 2020, Netflix) e Em Defesa de Jacob (2020, Apple TV+) aprofundam temas como bullying, depressão, isolamento, pressão social e os impactos emocionais das interações digitais.
Essas produções desempenham um papel fundamental ao sensibilizar e estimular reflexões importantes, ajudando pais, educadores e jovens a compreenderem melhor os desafios e as responsabilidades da vida conectada. Diante desse cenário, fica evidente a necessidade de escolas e famílias se unirem a fim de promover o uso consciente da tecnologia, criar espaços de escuta ativa e acolhimento emocional e incentivar o equilíbrio entre o mundo digital e as experiências do dia a dia.
E é justamente nesse ponto que surge uma pergunta crucial: como equilibrar essa balança? É aí que os livros entram em cena! Além de grandes aliados no desenvolvimento cognitivo e socioemocional das crianças e adolescentes, os livros também oferecem novas formas de olhar para o mundo e se relacionar com ele.
O poder da literatura: os livros como refúgio em tempos de hiperconexão
Em um mundo acelerado e hiperconectado, os livros oferecem algo cada vez mais raro: tempo. Tempo para respirar com calma, refletir, imaginar e sentir. Abrir um livro significa abrir espaço para o silêncio interior – um momento de conexão consigo mesmo. É mergulhar em histórias que inspiram, encantam, emocionam e expandem horizontes, ao mesmo tempo em que oferecem um refúgio seguro longe da avalanche digital.
Além de abrir as portas para universos mágicos e estimular a imaginação, a leitura promove uma série de benefícios essenciais para a formação integral das crianças e adolescentes, como o desenvolvimento de habilidades socioemocionais, como o pensamento crítico, a empatia, o autoconhecimento, a resiliência e a capacidade de lidar com sentimentos complexos.
E mais: ao acompanhar a jornada de personagens que enfrentam dilemas, conflitos e descobertas semelhantes aos seus próprios, crianças e adolescentes passam a compreender melhor suas emoções e percebem que não estão sozinhos. Essa identificação cria um espaço de acolhimento simbólico e, ao mesmo tempo, estimula reflexões importantes sobre si, o outro e o mundo ao redor.
Promover a leitura é, portanto, muito mais do que estimular um hábito. É oferecer aos jovens uma ferramenta valiosíssima de equilíbrio, expressão e autoconhecimento. É lembrar que, em meio a tantas notificações, ainda há espaço para o silêncio das páginas e a riqueza que só um bom livro é capaz de oferecer.